domingo, 22 de fevereiro de 2009

Giorno na Galeria Almine Rech



John Giorno (1936) é um poeta nova-iorquino que surgiu no início dos anos sessenta no meio da village e que esbarrou com um grupo de artistas que na mesma altura iniciavam igualmente os seus percursos. Eram estes Roy Lichtenstein, Jasper Johns, Rauschenberg, Robert Morris, John Cage, Yvonne Reiner, Carolee Schneeman (tantos nomes alemães!), Trisha Brown e Merce Cunningham, mas sobretudo Andy Warhol a quem esteve especialmente ligado até 1964 (é Giorno a figura pricipal do filme Sleep de 1963).
Perante o contacto com as vanguardas reconheceu o atraso experimental da poesia em relação às possibilidades tecnológicas dos emergentes new media. Como consequência foi um dos pioneiros na utilização da tecnologia não apenas como modo de difusão mas como material de construção poética. Junto a esta produção foi manifesto o projecto de "popularização" da poesia contemporânea que efectivamente foi sucedendo até finais da década de sessenta; "I organized Dial-a-Poem in '68 and it was very successful, because it was the first time the telephone was used for mass communication. Before, it was me calling you and you calling me and that was all. The stroke of luck was bringing together technology, (we had twelve telephone lines and twelve answering machines), with lots of publicity: newspapers, magazines, television, and great content. When it started the New York Times did a quarter page feature story with the phone number; and instantly there were hundreds of thousands of calls. It was free." (de uma extensa entrevista com Hans Ulrich Obrist)
Eventualmente estas experiências conduziram à sua associação a William Burroughs, Allen Ginsberg ou Brion Gysin e à criação da Giorno Poetry Systems, uma associação para a produção e divulgação de nova poesia. "we produced poetry videos, videopaks and films. We formed bands and toured like the rock'n' rollers. We displayed poetry on the surface of ordinary objects, producing silk-screen and lithograph Poem Prints". Giorno, mais do que como poeta, é (ainda) sobretudo um gerador de situações e possibilidades, como um foco energético. Interessa-se hoje pelas possibilidades poéticas do Rap e foi desde oitentas um activista para a prevenção e combate à SIDA. No que diz respeito à década de 60, será interessante establecer um paralelo do esforço produtor individual e tipo de produções de Giorno com as de George Maciunas, activo pela mesma altura e igualmente em Nova Iorque. Mesmo na Europa e logo a seguir à guerra começa-se a investigar o espaço de interacção entre poesia e tecnologia. Em França, por exemplo, Isadore Isou, Maurice Lemâitre e outros desenvolvem desde os anos 50 o International Lettrisme. No Reino Unido, em Londres, no ICA à volta de Reyner Banham e Alice e Peter Smithson dá-se em 1956 o ponto de partida para a Pop com This is Tomorrow. Para além dos conteudos e da dissolução de fronteiras entre alta e baixa cultura, a sinestesia pela tecnologia foi a marca dominante da cultura de sessentas.
Nesta exposição particular, para além de dois videos de poesia-performance (Down comes the rain e Welcoming the flowers), é sobretudo a ligação de John Giorno à geração pop americana e especificamente nova-iorquina (a Warhol e Rauschenberg, especialmente) e ao uso característico da serigrafia, que se encontram sublinhados no espaço billboard que se encontra instalado na Almine Rech. Uma referência.

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