Reflectindo sobre o futuro (sentido) da forma perante a realidade, Peio Aguirre, apresenta um outro ângulo para a reflexão sobre a subsistência política na arte, sob a forma de um contraste de debates entre a defesa do revolucionário na forma livre (Marcuse) e a defesa do realismo historicizado (Lukács). O seu objectivo assumidamente impossível é o imaginar de uma forma de arte futura, uma forma de realismo actualizado e coloca-o de maneira clara perante um fundo problemático contemporâneo. “Projectar uma forma futura de arte que não existe (ou que ainda não o é) é todo um trabalho para a imaginação; uma forma de arte que responda às principais características de um mundo altamente codificado, onde tudo gira em torno do branding, do marketing de estilos, da novidade sobrecarregada e desenhada, do trabalho imaterial e da semiótica de entorno. A Arte assemelha-se a essas outras áreas onde o mundo fabricado já não é tão primordial como o são o marketing dos bens e a gestão de informação. Evidentemente, objectos, livros e filmes continuam a ser produzidos em quantidades consideráveis. Como pensar a arte futura?”
Aguirre acaba por propor a solução de uma “historicidade da forma”, sem a entender, porém, como um compromisso entre as duas tendências estéticas dominantes para uma arte progressista dentro da tradição Marxista. Abandonando o explicitamente político e o objectivamente crítico, o autor propõe uma deriva historicizada em torno de categorias multiformes, contraditórias e especulativas que seguissem, como expressão de crise, num regime de semi-autonomia a própria crise do capitalismo. As formas têm sempre uma historicidade. O autor recupera o conceito de “ideologia da forma” usado por Fredric Jameson de forma recorrente na sua obra como um veículo para evitar o simples formalismo, por um lado e o “sociologismo vulgar”. “A aposta aqui é que é possível encontrar a história material que produz uma obra de arte inscrita na sua estrutura, no seu material, no ponto de vista narrativo ou nos recursos retóricos. Não existe uma forma que não tenha carácter social ou não seja um acto reflexo de um modo de produção determinado.” É útil realizar aqui a relação com o artigo de Clifford Geertz, “Ideology as a Cultural System” onde o autor defende a interpretação ideológica da realidade política e social como uma forma de integração identitária: “It is through the construction of ideologies, schematic images of social order, that man makes himself for better or worse a political animal.” Ricoeur no comentário que realiza a este artigo de Geertz lança alguma luz para a polémica já apresentada sobre a relação entre arte e político, isto se enquadrarmos aqui o conceito jamesoniano de “ideologia como forma”; “estou tentado a dizer que a ideologia tem uma função mais vasta que a política na medida em que é integrativa. Mas, quando a integração chega ao problema da função autorizada de modelos, a política torna-se o centro de atenções e a questão de identidade a moldura.” O filósofo francês vai ainda mais longe e involuntariamente produz uma admirável apologia da necessidade do artístico perante o político; - “finalmente, Geertz está mais do lado de uma teoria da tensão da ideologia. O conceito de integração tem precisamente a ver com a ameaça da falta de identidade.”