Um monocromo - ou neste caso um policromo - não representa nada. Se um monocromo pretendesse nomear algo, teria de ser nomeado de outra coisa.
Um monocromo é uma coisa no mundo.
Um monocromo vem ao mundo para criar uma revolução no sensível do humano, criando uma nova plataforma de entendimento do Outro, porque é mais uma coisa no mundo e não a substituição/representação ou mediação de algo pré-existente; E sobre toda a história do monocromo, conta apenas dizer, que o monocromo não é um fim em si mesmo, no sentido em que não é um objecto, mas sim uma plataforma ou estádio. Um monocromo é um planalto!
O estádio do monocromo é aquilo que Oiticica refere a estádio branco sobre branco (Malevich) e por analogia ao Rock em Roll: um ponto de passagem para o homem se autonomizar, tomando uma direcção livre.
Os oito monocromos que Ana Cardoso dispõe na galeria Reflexus são essa passagem. A pintura feita entre o sensível e o racional passa a ser feita por um corpo ultra sensível. E é aqui que se encontra o cordão umbilical a Blinky Palermo, usufruindo do poder de manusear e ser manuseada pela pintura, de constituir discurso através da descoberta de uma gramática própria à pintura e de um abecedário formado por silêncios 1. A repetição 2 do monocromo é essa forma de constituição de discurso , que neste caso é um discurso interior, e que só pode ser manuseado por esse corpo ultra sensível, onde a inteligência sensível e a inteligência racional se juntam.
A arte volta ser uma coisa interior que necessita de se tornar exterior e a pintura volta a ter um corpo para a receber.
1 e 2 - Soren Kierkegaard,“A repetição”; Trad. José Miranda Justo, Ed. Relógio d' Àgua, 2009.
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