quarta-feira, 31 de julho de 2013

Aux Arts Citoyens! (1)

Aux Arts Citoyens!  

Em Serralves até 13 de Março de 2010 convidava-se o “promeneur” a reflectir sobre “activismo, cidadania, revolução, utopia, democracia, comunidade” a partir de um par de exposições e apêndices em diferentes formatos – “conferências, seminários, conversas, sessões de cinema e projectos performativos” com o objectivo de “constituir uma plataforma de pensamento e de acção que cruza fronteiras disciplinares, geográficas e teóricas, sublinhando a relevância do político nas práticas artísticas na actualidade.” Esta última parte do convite continha os termos de uma relação que se insiste como problemática e sob suspeita. A ubiquidade das temáticas políticas nas práticas artísticas contemporâneas esconde apenas parcialmente a quase geral ineficácia ou mais correctamente, insignificância da agência artística em contextos sociais e políticos. Uma exposição com o expresso objectivo de perspectivar esta relação no presente e passado recente constitui no meu entender, um exemplar objecto para a crítica de uma relação que vive quase unicamente da sua própria nomeação e das boas intenções e; - na medida em que se afirma habitualmente um consenso sobre a necessidade de um envolvimento político das artes, mais importante se afiguraria para todos a procura de uma actualização deste papel, se não ainda “politicamente” efectivo, que pelo menos ao nível inicial de uma argumentação, demonstrasse o lugar de possibilidades e oportunidades para agir. A exposição dividiu-se em duas curadorias diferentes e como tal, em diferentes aproximações ao problema da relação entre arte e política. A principal, organizada por João Fernandes e Óscar Faria, dentro do museu propriamente dito, apresentou trabalhos de artistas cujo tema principal de investigação é o político. Cá fora, no hall, uma segunda exposição organizada já por Guy Schraenen intitulava-se “Nas Margens da Arte” e procurava explorar “a relação entre criatividade artística e envolvimento político”. Na sua apresentação, o autor concluia que “no seu conjunto (os trabalhos), devem permitir-nos repensar as fronteiras entre os territórios da arte e da ideologia, e a ligação entre as esferas da arte, da política e do activismo.” Esta afirmação é interessante na medida em que coloca o ideológico directamente no centro da argumentação. O conceito é importante porque permite fazer uma ponte entre dois sistemas distintos, com regimes distintos, ou seja, com especificidades, constrangimentos e obrigações estabelecidos, histórias e vocabulários próprios. O conceito de ideologia é efectivo na medida em que é central tanto na literatura sobre Arte como em disciplinas como as Ciências Políticas, a Sociologia, a Antropologia e outras. 


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