Fundação Carmona e Costa - Até 31 de Janeiro.
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
Carlos Nogueira
Fundação Carmona e Costa - Até 31 de Janeiro.
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
Zombie Polaroid
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
Tradução Centro-Periferia
Ilya Kabakov - Münster 1997
Um pequeno ensaio sobre Design e política, bem construído, que vale a pena ler no blogue The Ressabiator por Mário Moura, autor do recente e infelizmente esgotado Design em Tempo de Crise.
O ensaio utiliza o modelo de análise pós-colonial, não como habitualmente se faz, aplicado ao mundo subdesenvolvido, mas à própria paisagem urbana portuguesa. Moura justifica esse uso pela auto-representação da natureza periférica deste território e adianta; “Ao longo deste texto, procurou estabelecer-se o esboço de um modelo alternativo para uma teoria crítica do design em Portugal, fortemente inspirado na Teoria Pós-Colonial. A aplicação desta área de estudos ao design português pode parecer inusitada” - Não constitui para nós uma surpresa a utilização do modelo crítico pós-colonial aplicado ao design. Faz aliás, muito mais sentido do que a sua ligação às artes plásticas, dadas todas as incidências políticas e sociais que possui a pratica do designer (arquitectos incluídos) no quotidiano. Nas artes todo o discurso mantêm-se sempre rigorosamente dentro dos parêntesis do mundo da arte.
O artigo desenvolve então uma crítica aos modos de tradução dos modelos de vanguarda ou teóricos (centro) quando aplicados a um contexto local de clientelas, hábitos adquiridos, morfologia e clima (periferia) e é este o tema central do ensaio. Observando os exemplos portuenses da arquitectura de Siza e Souto Moura confrontados com a casa da música de Koolhaas e um exemplo de design gráfico, Mário Moura conclui a defender uma prática do design a intervir sobre o local, incidindo a sua atenção crítica, mediante a compreensão da dialéctica centro-periferia. Esta critica centrar-se-à sobre o acto de tradução ou adaptação dos objectos oriundos de um "centro", de modo a que possa essa inserção constituir um choque clarificador e por isso socialmente progressivo. A atitude a tomar pelo designer será então, contra a prática corrente de ocultação, a de reproduzir localmente os “embates” entre centro e periferia. A chamada à participação das populações periféricas neste debate ficaria assim assegurada.
A ideia entusiasma - e fá-lo justamente por ser mais uma chamada à intervenção de uma classe profissional de enorme responsabilidade política e que tem andado longe de estar à altura do desafio. Entusiasma tambem por devolver à deambulação pública o hábito do projectado. Por outro lado esta ideia de choque faz-me lembrar o centro de uma cidade como Hanôver, destruída a 80% e onde se construiu na aplicação de modelos contrapostos. Este processo tem um lado visualmente problemático e esse é um problema das cidades alemãs. Roterdão, a cidade de Koolhaas é outro exemplo. Claro que aqui não houve periferia; apenas a urgência do wiederaufbau (reconstrução).
Sabendo que MM não se refere a este tipo de arquitectura, recordo aqui, no entanto e pensando na casa da música, um artigo de Hal Foster sobre aquilo a que chamava billboard architecture a propósito de Frank Ghery. Referia-se ao chamado efeito Guggenheim e sobre um certo tipo de arquitectura para ser vista mais do que percorrida e que funciona como uma mais valia turística numa cidade enegrecida pelas industrias pesadas ao longo do rio que a atravessa. "Thirty years ago Guy Debord defined spectacle as ‘capital accumulated to such a degree that it becomes an image’. With Gehry and other architects the reverse is now true as well: spectacle is an image accumulated to such a degree that it becomes capital." (Foster)
sábado, 24 de janeiro de 2009
Terre Natale
O 1º piso da Fundação ficou a cargo de Depardon e o sub-solo a Virilio. Na grande sala do 1º piso, Raymond Depardon apresenta uma enorme projecção do video : Donner la parole. Depardon viajou pelo Chile, Etiópia, Bolívia, França, Brasil para se encontrar com nómadas, agricultores, ilhéus, indígenas, pessoas que vivem á margem da globalização ameaçadas pela extinção do seu próprio povo. No filme ouvimo-las falar, nas suas linguas maternas, declarando a angústia e medos face á sua existência. Como confronto a este video na sala mais pequena (mas mesmo assim enorme), Depardon exibe em 2 ecrãs o filme Tour du Monde en 14 jours, filme jornal sem som de imagens belíssimas recolhidas numa viagem solitária pelo mundo em 14 dias (Washington, Los Angeles, Honolulu, Toquio, Ho Chi Minh, Singapura, Cidade do Cabo). Mas este mundo que Depardon agora filma é o mundo globalizado, é o seu mundo, é o meu mundo (estou aqui a escrever na internet), é um mundo feito de imagens que nos parecem tão familiares. É, de facto assustador, a homogeneidade nestas imagens, a rapariga de cabelo esticado que atravessa a rua de Singapura a falar ao telemóvel é idêntica á outra que em Los Angeles está parada no sinal, mas desta vez dentro do carro. Pareceu-me interessante este confronto, um dos filmes ter som (e precisamente ouvirmos relatos do que desconhecemos) e o outro não ter som mas ter 2 ecrãs (a multiplicidade, a velocidade, a dispersão que a "cidade" provoca).
No sub-solo Paul Virilio, com a ajuda de uma vasta equipa de artistas e arquitectos americanos, desenha a 2ª parte da exposição. Para além de um video de Virilio, o próprio, a dar as boas vindas e a fazer uma introdução, a grande sala do sub-solo acolhe uma régie de monitores video suspensos no tecto que difunde imagens de arquivo, documentários e fotografias sobre migrações globais. Na sala mais pequena assistimos quase que a uma palestra interactiva; onde através de uma instalação video totamente high tech podemos ir lendo gráficos, tabelas, mapas sofisticados que nos vão anunciando previsões assustadoras muito ao jeito da Verdade Inconveniente de Al Gore, na minha opinião. Os dados analisados vão desde: densidade populacional, migrações para zonas urbanas, trajectos feitos por emigrantes forçados (refugiados), desastres naturais, níveis da água do mar ...
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
Galeristas Curadores
Miguel Branco
Entre Chien et Loup é o nome da exposição presente até 7 de Março na galeria Caroline Pagès, por iniciativa da própria galerista e de Miguel Branco. A4 É o nome da colectiva que Rui Brito apresenta na galeria 111 até 21 de Fevereiro. Ambas mostram quatro artistas e maioritariamente “pintura”.
A galeria Caroline Pagès é modesta situada num apartamento em Campo de Ourique e sem muito espaço. A exposição no entanto surpreende: O título refere-se a uma expressão coloquial em francês do género de “de noite todos os gatos são pardos” mas desta feita aplicada ao crepúsculo. A transitoriedade proposta pelo título na diferença entre dois animais sente-se de facto no espaço aberto, não apenas entre formas expressivas, mas entre os temperamentos extremos presentes, o que permite ao espectador de efectuar múltiplos jogos de leitura. Formas diversas de simbolismo são de resto a marca que une os trabalhos.
Miguel Branco (1963) apresenta-nos uma série de pequenas pinturas, do tipo a que nos tem habituado desde há muito. Um pequeno cão parece saído do lado do malogrado Carlos I pintado por Van Dyck para preparar um salto para os colos de todas essas senhoras que faziam a clientela de Reynolds, Lawrence, Raeburn e outros. Há algo na pintura de MB que a afasta do simples exercício à maneira deste ou daquele. Com uso destes “quase nada” ou extras, constrói um universo entre a pintura que foi e a que poderá ser: um limbo ou uma ante-câmara. Uma inquietante pequena carcaça de morcego realiza uma passagem inteligente para uma obra distantíssima da sua; de Manuel Ocampo (1965), o grande nome da exposição, podemos ver uma dúzia de desenhos entre as masmorras e a necrofagia. Numa sala isolada estão três telas de Rudolfo Bispo (1981) que não surpreendem mas cuja ironia expressa o coloca como elemento de ligação interna entre os três discursos mais pesados. A exposição ganha leveza por aqui.
A grande surpresa da exposição é a produção gráfica do jovem licantropo francês Jean-Xavier Renaud (1977). Completamente trash trabalhando sobre papel utiliza as mais variadas estratégias, materiais e sensibilidades gráficas; ora mais ilustrativo e transparente ora selvático, próximo da tradição CoBrA. Um gozo iconoclasta pelo absurdo é a marca dominante do seu trabalho. A peça central do dispositivo é um enorme e sádico caçador a visar sabe-se lá que adorável roedor no meio da relva.
A exposição A4 na galeria 111 nada traz de surpreendente ou extraordinário com os trabalhos da autoria de Ana Vidigal, Francisco Vidal, Rigo e Fátima Mendonça. A relação entre os quatro autores nada revela para além das suas diferenças. Apesar das intenções curatoriais que o galerista exprime na press release, o exposto parece corresponder mais a intenções comerciais do que a qualquer propósito temático ou outro. Então porquê falar-se em curadoria? A dúvida fica. É uma excelente ideia as galerias utilizarem os seus próprios recursos para fazer mais do que bons negócios. A pequena galeria de Campo de Ourique teve de recorrer a autores exteriores para conseguir transmitir uma ideia. A 111 tem imensos recursos internos a esse nível, com os quarenta anos de história que tem. Tem artistas excelentes e uma responsabilidade a manter. Teria de ter feito muito mais e mesmo sem um grande esforço, isto se quisermos levar a sério as intenções curatoriais do seu galerista. Aquilo que acabaria por não ser muito mais que uma accrochage a quatro, acaba por se notabilizar negativamente por se ensaiar ser mais do que isso.
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
poppe
domingo, 18 de janeiro de 2009
Pollock e os Índios
A exposição tem um enfoque maioritário sobre a génese surrealista do jovem Pollock (justapõe-se a Masson) e esforça-se por demonstrar a relação da sua pintura com as práticas dos índios Navajo. No blogue Lunettes Rouges critica-se a exposição no modo como se cola demasiado a essa hipótese. Ao confrontarmo-nos com pintura como a de JP não podemos levar qualquer referência extra-pictórica como "a" determinante num processo que acabaria por se tornar a força visual e icónica no seu período mais conhecido, o do dripping. De uma colagem inicial a um surrealismo esventrado o modo de se fazer pintura alimentou-se sobretudo de uma forma de ser corpo, temperamento. Mas as referências culturais, neste caso "tribais" actuaram também. A influência xamanista pode ler-se tanto ou nível do visceral representado mas também ao nível do abandono ébrio contido no seu temperamento e que se emulava no acto de pintar, transmitido e experimentável por nós, tanto na sua obra mais figurativa, pela violência do gesto, como na “dança” que parecia executar sobe as suas últimas arenas. De qualquer modo afigura-se por vezes como um verdadeiro petisco para o analista a rápida ligação do artista ao transcendente ou ao enactment dessa relação como sacerdote, o keeper of secrets. A realidade é técnica; a pintura para o pintor é um lugar imediato de construção e permanente avaliação onde os critérios pouco ou nada têm a ver com a religião. Eventualmente, para compormos o outro lado do conto pode-se admitir o surgir da fantasia própria da contemplação narcísica do autor perante a sua obra, o lugar por onde todas as relações se realizam. Para ter a certeza sobre se a coisa é assim ou assado, nada como enfiar-se num Sud Express até 15 de Fevereiro e allez hop!
sábado, 17 de janeiro de 2009
KLAT
Ex caligine, nova insigna : anaphoros Gegenschein
Curated by:Fabrice Stroun
Galerie Laurent Godin
5 rue du Grenier Saint-Lazare75003 Paris
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
Coosje van Bruggen
quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
Vestígio
O “catálogo” tem as folhas em branco. É uma surpresa mas que logo a seguir se torna em mais um factor de contribuição para a sensação de injustificação geral do projecto. Se este caderno em branco tivesse sido escolhido para a actual exposição “Colectiva” patente no quarto andar do 211 da Avenida da Liberdade em torno de Pedro Morais, não seria estranho, mas neste lugar perante o que se verifica, parece mais um acto de retórica isolada. Não se crê que se trate de uma auto-ironia sobre essa mesma ausência de programa.
A exposição é um acto de rotina; não talvez para os seus organizadores, mas é de certeza na perspectiva alargada do estado de produção cultural em Portugal e isso sente-se no modo desinteressado e desinteressante como alguns dos autores presentes participaram na colectiva (veja-se o caso de Gabriel Abrantes). O facto de se escrever aqui sobre a exposição tem a ver apenas com o facto de se ter entendido como mais um exemplar de muitas outras “colectivas” que se vão sucedendo sob nomes mais ou menos pomposos mas todos eles muito abrangentes. O Romeu Gonçalves e o Carlos Noronha Feio não são “curadores profissionais” e tal facto minora toda a questão ética de faltas de actualidade patentes na mostra, mas tal não inviabiliza a necessidade de se ir estabelecendo uma crítica sobre os programas intelectuais servidos sob a forma de prato do dia.
São os autores representados os seguintes: Ana Anacleto, Ana Fonseca, Ângelo Ferreira de Sousa, Carla Cruz, Carlos Correia, Carlos Noronha Feio, Cecília Costa, Gabriel Abrantes, João Leonardo, Mara Castilho, Maria Condado, Marta Moura, Mikael Larsson, Paulo Brighenti, Romeu Gonçalves, Samuel Rama, Valter Barros. A qualidade dos trabalhos expostos, independentemente de tudo o resto e comparando com exposições anteriores no mesmo local, não sendo negativa, corresponde no conjunto à falta de ambição curatorial que os integrou.
quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
Crítica (1)
Começo pela crítica. Perante um fenómeno que se configura em proposta como o são a maioria das exposições que visitamos como nos poderemos situar? O que poderemos ser? Duas situações normalmente ocorrem na escrita sobre determinado evento: a descrição e a posterior valoração. Ultimamente tem-se mesmo optado por dar valores em “estrelinhas” às exposições nos suplementos mais importantes consagrados à “cultura”. É importante como medida económica, redutora e simplificadora mas infelizmente ineficaz para satisfazer uma mínima exigência de qualidade intelectual. Esta valoração deve estar contida no texto; no modo como este evolui motivado pelo fenómeno ou evento em foco. A simples descrição das exposições que frequentemente ocorre nada mais faz do que embalar a ausência de aventura escrita em direcção ao momento redentor da valoração numérica. Outro aspecto enervante é a por vezes excessiva colagem ao próprio pensamento do artista como corolário paliativo da ineficácia crítica. Pensamos ser este estado de coisas resultantes da falta de debate aberto sobre estética, ética, política relacionada à poética. Debatem-se por vezes de modo mil vezes mais apaixonado questões de “política” institucional[1] ou de financiamento do que as fendas abertas de modo escancarado no tecido da mundividência comum por determinadas e raras obras.
Avança-se com uma hipótese; a da crítica constituir-se como uma exploração livre dos espaços abertos por um evento poético, de uma proposta, de uma exposição. Propõe-se que a crítica não sublinhe simplesmente o existente, que não tenha medo de desrespeitar o “artista”, colocando-se num lugar de experiência autónoma equivalente e outra, de reacção ao proposto, ao experimentado. A crítica constitui-se como uma forma ética poderosa de deambular pela vida em comum. Um artista também o fará no seu melhor, com outras formas e meios que não o da escrita. A crítica é mais uma forma literária, como outras. É de má literatura que se trata quando lemos maus textos críticos.
Pelo parágrafo anterior deduz-se a crítica que fazemos aqui ao estatuto profissional do crítico: a crítica ao invés de estritamente ancorada aos preceitos dominantes em ciências humanas deveria surgir da urgência, de um estado de revolta latente; ser ela própria poética. Este blogue nasce deste lugar e pretende simplesmente pela melhor qualidade possível de texto em forma e conteúdos dar corpo a esta crítica aventureira que desejámos perante a outra. Armados de palavras exactas para intervenções cirúrgicas ou de puro chumbo de caçadeira, por tudo o que vive entre estes opostos, é para se escrever a partir da actualidade de existir perante uma obra, não apenas como supostos “artistas”ou intelectuais, mas muito para além disso, como pessoas trespassadas pelo desejo do poder pensar em acto, experimentado em escrita. Por outras palavras e simplificando; o espírito do que se pretende é o da livre experimentação e do ensaio e simultaneamente da pluralidade de pontos de vista e estilos perante ao que vulgarmente e por conveniência designamos por “arte”. Pretendemos para além da informação básica e essencial existente em qualquer projecto deste tipo, tornar sensível ao entendimento o que julgamos ver dos espaços que se abrem por cada novo acto.
[1] Como se verificou recentemente na barafunda criada com as nomeações para a representação portuguesa para a Bienal de Veneza