Ilya Kabakov - Münster 1997
Um pequeno ensaio sobre Design e política, bem construído, que vale a pena ler no blogue The Ressabiator por Mário Moura, autor do recente e infelizmente esgotado Design em Tempo de Crise.
O ensaio utiliza o modelo de análise pós-colonial, não como habitualmente se faz, aplicado ao mundo subdesenvolvido, mas à própria paisagem urbana portuguesa. Moura justifica esse uso pela auto-representação da natureza periférica deste território e adianta; “Ao longo deste texto, procurou estabelecer-se o esboço de um modelo alternativo para uma teoria crítica do design em Portugal, fortemente inspirado na Teoria Pós-Colonial. A aplicação desta área de estudos ao design português pode parecer inusitada” - Não constitui para nós uma surpresa a utilização do modelo crítico pós-colonial aplicado ao design. Faz aliás, muito mais sentido do que a sua ligação às artes plásticas, dadas todas as incidências políticas e sociais que possui a pratica do designer (arquitectos incluídos) no quotidiano. Nas artes todo o discurso mantêm-se sempre rigorosamente dentro dos parêntesis do mundo da arte.
O artigo desenvolve então uma crítica aos modos de tradução dos modelos de vanguarda ou teóricos (centro) quando aplicados a um contexto local de clientelas, hábitos adquiridos, morfologia e clima (periferia) e é este o tema central do ensaio. Observando os exemplos portuenses da arquitectura de Siza e Souto Moura confrontados com a casa da música de Koolhaas e um exemplo de design gráfico, Mário Moura conclui a defender uma prática do design a intervir sobre o local, incidindo a sua atenção crítica, mediante a compreensão da dialéctica centro-periferia. Esta critica centrar-se-à sobre o acto de tradução ou adaptação dos objectos oriundos de um "centro", de modo a que possa essa inserção constituir um choque clarificador e por isso socialmente progressivo. A atitude a tomar pelo designer será então, contra a prática corrente de ocultação, a de reproduzir localmente os “embates” entre centro e periferia. A chamada à participação das populações periféricas neste debate ficaria assim assegurada.
A ideia entusiasma - e fá-lo justamente por ser mais uma chamada à intervenção de uma classe profissional de enorme responsabilidade política e que tem andado longe de estar à altura do desafio. Entusiasma tambem por devolver à deambulação pública o hábito do projectado. Por outro lado esta ideia de choque faz-me lembrar o centro de uma cidade como Hanôver, destruída a 80% e onde se construiu na aplicação de modelos contrapostos. Este processo tem um lado visualmente problemático e esse é um problema das cidades alemãs. Roterdão, a cidade de Koolhaas é outro exemplo. Claro que aqui não houve periferia; apenas a urgência do wiederaufbau (reconstrução).
Sabendo que MM não se refere a este tipo de arquitectura, recordo aqui, no entanto e pensando na casa da música, um artigo de Hal Foster sobre aquilo a que chamava billboard architecture a propósito de Frank Ghery. Referia-se ao chamado efeito Guggenheim e sobre um certo tipo de arquitectura para ser vista mais do que percorrida e que funciona como uma mais valia turística numa cidade enegrecida pelas industrias pesadas ao longo do rio que a atravessa. "Thirty years ago Guy Debord defined spectacle as ‘capital accumulated to such a degree that it becomes an image’. With Gehry and other architects the reverse is now true as well: spectacle is an image accumulated to such a degree that it becomes capital." (Foster)
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