sábado, 24 de janeiro de 2009

Terre Natale





Visitei a por aqui tão anunciada exposição: Terre Natale - ailluers commence ici de Raymond Depardon e Paul Virilio na Fondation Cartier pour l'art contemporain, Paris. Terre Natale propõe uma reflexão sobre as noções de enraizamento, desenraizamento e identidade e é uma exposição/diálogo entre o cineasta e fotógrafo Raymond Depardon e o urbanista e filósofo Paul Virilio.
O trabalho de Depardon aliando poética e política explora frequentemente o universo rural dando muitas vezes voz aos camponeses (como no filme La vie Moderne - presença no festival de Cannes 2008). Paul Virilio através dos seus escritos procura reflectir sobre as noções de velocidade, êxodo, fim de espaço geográfico, distância, poluição.

O 1º piso da Fundação ficou a cargo de Depardon e o sub-solo a Virilio. Na grande sala do 1º piso, Raymond Depardon apresenta uma enorme projecção do video : Donner la parole. Depardon viajou pelo Chile, Etiópia, Bolívia, França, Brasil para se encontrar com nómadas, agricultores, ilhéus, indígenas, pessoas que vivem á margem da globalização ameaçadas pela extinção do seu próprio povo. No filme ouvimo-las falar, nas suas linguas maternas, declarando a angústia e medos face á sua existência. Como confronto a este video na sala mais pequena (mas mesmo assim enorme), Depardon exibe em 2 ecrãs o filme Tour du Monde en 14 jours, filme jornal sem som de imagens belíssimas recolhidas numa viagem solitária pelo mundo em 14 dias (Washington, Los Angeles, Honolulu, Toquio, Ho Chi Minh, Singapura, Cidade do Cabo). Mas este mundo que Depardon agora filma é o mundo globalizado, é o seu mundo, é o meu mundo (estou aqui a escrever na internet), é um mundo feito de imagens que nos parecem tão familiares. É, de facto assustador, a homogeneidade nestas imagens, a rapariga de cabelo esticado que atravessa a rua de Singapura a falar ao telemóvel é idêntica á outra que em Los Angeles está parada no sinal, mas desta vez dentro do carro. Pareceu-me interessante este confronto, um dos filmes ter som (e precisamente ouvirmos relatos do que desconhecemos) e o outro não ter som mas ter 2 ecrãs (a multiplicidade, a velocidade, a dispersão que a "cidade" provoca).

No sub-solo Paul Virilio, com a ajuda de uma vasta equipa de artistas e arquitectos americanos, desenha a 2ª parte da exposição. Para além de um video de Virilio, o próprio, a dar as boas vindas e a fazer uma introdução, a grande sala do sub-solo acolhe uma régie de monitores video suspensos no tecto que difunde imagens de arquivo, documentários e fotografias sobre migrações globais. Na sala mais pequena assistimos quase que a uma palestra interactiva; onde através de uma instalação video totamente high tech podemos ir lendo gráficos, tabelas, mapas sofisticados que nos vão anunciando previsões assustadoras muito ao jeito da Verdade Inconveniente de Al Gore, na minha opinião. Os dados analisados vão desde: densidade populacional, migrações para zonas urbanas, trajectos feitos por emigrantes forçados (refugiados), desastres naturais, níveis da água do mar ...
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Saio confusa da exposição, não pelas profecias apocalípticas para esta sociedade tecnocrata anunciadas por Virilio, mas por este modelo de exposição. Tento perceber se faz sentido a forma como o pensamento de Virilio foi materializado naquele dispositivo didático. Penso na quantidade de videos e monitores utilizados. E pergunto-me também se isto será uma exposição de Arte ... acho que não ... mas se calhar nem é suposto ser.

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