quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Carlos Nogueira




Muito bem instaladas e espaçadas de largas pausas de branco, no andar da fundação, estão as várias formas de trato das coisas dadas por Carlos Nogueira. A forma que me pareceu mais exacta para tentar traduzir, no esforço de nomear o que penso ser aquilo, foi a metáfora musical do concretismo. Mas é um concretismo de metais, madeiras e percussão em que, se por um lado se exibe a materialidade do timbre, uma qualidade sonora, por outro existe uma articulação metafórica e que nos conduz a um processo lasso de significação. O trabalho de Carlos Nogueira costuma ser extremamente atento ao que existe, mas a marca do que propõe é frequentemente a da fuga para um tempo de contemplação. Neste aspecto parece partilhar da inclinação metafísica existente na obra de Turrel, Smithson e dos minimalistas, concorrendo nesta inclinação com alguns outros nomes da sua geração. Aqui, porém, não existindo um exterior referencial, são os objectos entre si, multiformes e diversos, que se auto-referenciam. Na ligação fisicamente marcada pelo espaço musicado de distâncias e em medida contrária, na proximidade sensível das formas de ser, constrói-se um percurso denso com centros e aspersões periféricas. Os materiais são essenciais, as cores vão do negro pelos pardos e cinza á omnipresente reflexão do branco nos espelhos e vidros. O verde-água presente e significante, reforça a metáfora de lago, ou túmulo de água, simultaneamente porta.

Fundação Carmona e Costa - Até 31 de Janeiro.

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