sábado, 7 de fevereiro de 2009

HARVEY MILK vs SEAN PENN



HARVEY MILK vs SEAN PENN

No seu último filme recentemente estreado entre nós, Gus Van Sant volta a debruçar-se sobre uma história verídica à semelhança do que já havia feito com Elephant (2003), desta vez recorrendo ao formato biopic e retratando a história da ascensão, eleição e assassinato do activista gay e político Harvey Milk (1930/1978)

O filme começa por nos contar a tragédia que o concluirá. O iminente assassinato do personagem principal é pressentido logo na cena inaugural que virá a servir de fio condutor da narrativa, na qual Milk sentado na sua cozinha, grava uma cassete para ser tornada pública no caso do seu assassinato. Este é-nos revelado logo de seguida através da inclusão de uma imagem de arquivo (recorrentemente introduzidas ao longo do filme com bastante eficácia) de Dianne Feinstein, actualmente Senadora do Estado da Califórnia que anuncia a morte dos supervisores Milk e Moscone. A narrativa retrocede cerca de dez anos e leva-nos então através dos últimos anos de vida do personagem que é assinalada pela notável interpretação de um Sean Penn no seu melhor.

Este artefacto narrativo deixa-nos no entanto desde o início com a errada impressão de que Harvey Milk foi um mártir pela causa dos direitos dos homossexuais em virtude de uma atitude demagógica de Van Sant. Não obstante a pertinência e actualidade da história que nos conta o filme, o assassinato de Harvey Milk, é executado por Dan White (também supervisor e colega de Milk) por frustração relativa à sua vida pessoal que decorre da sua incapacidade de sustentar a família e de fazer valer medidas próximas do seu eleitorado politico católico e Irish-American. O facto de Milk ser morto, já que Moscone é o seu alvo principal, terá mais a ver com uma quezília pessoal entre os dois do que com a tentativa de White de silenciar um activista politico.

Temos então um Sean Penn másculo e concentrado, sensível ao ponto de incorporar maneirismos gay com a sabedoria suficiente para os minimizar mesmo abaixo daquilo que seria um estereótipo, que nos guia como Milk, desde Nova Iorque em 1970 com quarenta anos, vendedor de seguros ainda não assumido através do resto da sua vida.
Passando pela mudança para S. Francisco e o início da actividade política em prol dos direitos dos homossexuais e de outras minorias, onde ganha o cognome de “Mayor of Castro Street” em 72, prosseguindo com a sua eleição para Supervisor da Câmara de S. Francisco (primeiro homossexual abertamente assumido a ser eleito na América para um cargo politico) a história culmina no seu assassinato (em 1978) e na vigília a que compareceram mais de 20 000 pessoas para lhe prestar homenagem.

Com este filme Gus Van Sant leva-nos de novo a acreditar que o soberbo Gerry (2002) terá sido um acidente de percurso que ainda tentou prolongar com Elephant e Last Days através da celebrada Death Trilogy que o primeiro havia iniciado. Aqui vemo-lo de volta a uma linguagem mais comercial ao nível do também seu Finding Forrester (2000), pretensiosamente disfarçada com um toque arty, note-se por exemplo a discreta presença de Jeff Koons, do qual se escapam no entanto alguns bons pormenores como por exemplo uma das cenas finais na qual Milk assiste à Tosca de Giacomo Puccini.

O interesse por este formato cinematográfico tão corrente nos dias de hoje - o biopic - que é por si só uma espécie de subgénero do Cinema e da sua história, bem como a abordagem relativamente banal de Van Sant a esta história poderá denotar a proximidade da tão esperada award season ficando assim esta biografia muito atrás de outras que realmente dão razão à existência deste género tais como o poético Wittgenstein de Derek Jarman, American Splendor (Harvey Pekar) de Shari Springer Berman e Robert Pulcini, funcionando este quase como uma antitese do formato ou ainda dos mais recentes Good Night and Good Luck (Edward R. Murrow) de George Clooney, I’m not There (Bob Dylan) de Todd Haynes e Into the Wild (Christopher McCandless) do próprio one and only our beloved Sean Penn.

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