


Outra referência. Ben Vautier (Ben) expôs até 21 de Fevereiro último na Templon, a mesma galeria à qual está ligado desde 1970. Nascido em Nápoles em 1935 e iniciando o seu percurso artístico como pintor abstracto, abriu no final dos anos cinquenta uma pequena loja ("magasin fourre-tout, lieu de rencontres et d'exposition") em Nice onde vende livros e discos em segunda mão. Em breve esta torna-se um ponto obrigatório de paragem para artistas que mais tarde viriam a ser conhecidos pelo termo impreciso de "Escola de Nice"; César, Arman, Sosno, Raysse e sobretudo Yves Klein, que introduziu Ben no "Nouveau Reálisme" que fundara em 1960 (com Pierre Restany). A relação com o legado de Duchamp torna-se o motivo central das suas pesquisas. Considera então que os Nouveau Realistes, Cage e outros não fizeram mais do que "embelezamentos expressivos" sobre o gesto inaugural da entronização do secador de garrafas como objecto de arte; mas tal como a Beuys, também o silêncio (irónico?) de Duchamp constitui-se como a origem de uma mistificação e de abusos que urge ultrapassar. Pretendendo superar a categoria do belo como instância qualitativa tenta levar adiante a premissa duchampiana de que a arte é como uma caixa na qual tudo o que lá se coloca fica conotado automáticamente como objecto artistico. Fluxus, movimento do qual é um dos iniciadores na Europa em inícios de sessentas, pretende, a partir da paradoxal inversão e extensão (a re-utilização do ready-made pela vulgarização) do gesto duchampiano, establecer uma ligação definitiva entre a arte e a vida pela superação das suas fronteiras institucionais. George Brecht, por exemplo e ao invés de Duchamp, colocava uma cadeira numa exposição para que as pessoas se podessem sentar - esta é a abordagem comum de Fluxus, vis-a-vis à herança de Duchampiana. O humor e a ironia são a táctica habitual. Ben, pelo seu lado, ao descobrir que a arte é sobretudo uma condição ligada ao nome de quem assina, decide enfim fazer uma pintura tendo a sua assinatura como objecto. A partir daí pretende assinar metódicamente tudo o que Duchamp não assinara ainda (daí a sua declaração de inveja por Manzoni).
O ego e o novo tornam-se assim o binómio de uma crítica metódica em Ben Vautier; "L'ego est une de mes matières favorites. D'abord je l'ai en face de moi, en moi. Il me suffit donc de me poser des questions et d'y répondre. Mon intérêt sur l'ego rejoint ma théorie générale de l'art que toute vie est survie et que l'ego est une forme de survie" (Ben). Se o novo é a marca da actualidade da arte, só um novo paradigma de ego ou uma nova humanidade, poderá trazer uma nova forma de arte. Perante esta "angustia do novo" (Bourriaud) a obra de Ben toma então frequentemente a forma de autocrítica (como no famoso "L’art est inutile, rentrez chez vous" ou um tom apocalíptico como na presente exposição.
"Ben prolonge donc le geste de Duchamp. Ben n’a pas simplement signé toutes sortes d’objets (trouvés par hasard), mais aussi des sentiments, des événements, des valeurs abstraites… Ben
O ego e o novo tornam-se assim o binómio de uma crítica metódica em Ben Vautier; "L'ego est une de mes matières favorites. D'abord je l'ai en face de moi, en moi. Il me suffit donc de me poser des questions et d'y répondre. Mon intérêt sur l'ego rejoint ma théorie générale de l'art que toute vie est survie et que l'ego est une forme de survie" (Ben). Se o novo é a marca da actualidade da arte, só um novo paradigma de ego ou uma nova humanidade, poderá trazer uma nova forma de arte. Perante esta "angustia do novo" (Bourriaud) a obra de Ben toma então frequentemente a forma de autocrítica (como no famoso "L’art est inutile, rentrez chez vous" ou um tom apocalíptico como na presente exposição.
"Ben prolonge donc le geste de Duchamp. Ben n’a pas simplement signé toutes sortes d’objets (trouvés par hasard), mais aussi des sentiments, des événements, des valeurs abstraites… Ben

Na presente exposição, de modo dramático, retorna o mal-estar angustiado gerado da constante atenção sobre o eclodir do novo na história da arte. É o suicídio como solução final para a vida de artistas plásticos contemporâneos, de Maiakovski, Rothko e Nicolas de Staël até Diane Arbus (na foto) que se torna agora em ideia o objecto apropriado por Ben Vautier como arte"(...) Je prends moi, Ben, possession de l'idée de la mort dans l'art car seule la mort est l'absolu." Para esta apropriação é necessário que o artista se suicide como obra. Mas o próprio teria já tentado fazê-lo e deste modo encontrando a validação para a pretensão de posse autoral. "En janvier 1961, je fais part a la presse de mon intention de me faire écraser en forme d'aile de voiture par une presse de l'usine Renault, ou de me faire aplatir par un rouleau compresseur sur une toile qui serait vernie par ma femme aprés ma mort." Um fragmento dessa experiência está escrita na parede da galeria. Ao fundo da mesma, como objectos e mercadorias que celebram o significado real e ao mesmo tempo sendo necessárias ao funcionamento global de todo o sistema artístico, estão as pinturas com frases ou palavras sobre a morte assinadas "Ben". "La Mort est Partout."
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