domingo, 10 de maio de 2009

Manifesto Futurista



A propósito de Manifestos,
foi há 100 anos que o primeiro foi publicado.

A propósito também de Consciência Política na arte...


Manifesto Futurista
(Filippo Tommaso Marinetti 1909)
[…]

1. Queremos cantar o amor do perigo, o hábito da energia e da temeridade.

2. A coragem, a audácia e a rebelião serão elementos essenciais da nossa poesia.
3. Até hoje a literatura tem exaltado a imobilidade pensativa, o êxtase e o sono. Queremos exaltar o movimento agressivo, a insónia febril, a velocidade, o salto mortal, a bofetada e o murro.

4. Afirmamos que a magnificência do mundo se enriqueceu de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um carro de corrida adornado de grossos tubos semelhantes a serpentes de hálito explosivo... um automóvel rugidor, que parece correr sobre a metralha, é mais belo que a Vitória de Samotrácia.

5. Queremos celebrar o homem que segura o volante, cuja haste ideal atravessa a Terra, lançada a toda velocidade no circuito de sua própria órbita.

6. O poeta deve prodigalizar-se com ardor, fausto e munificência, a fim de aumentar o entusiástico fervor dos elementos primordiais.

7. Já não há beleza senão na luta. Nenhuma obra que não tenha um carácter agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças ignotas para obrigá-las a prostrar-se ante o homem.

8. Estamos no promontório extremo dos séculos!... Por que haveremos de olhar para trás, se queremos arrombar as misteriosas portas do Impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Vivemos já o absoluto, pois criamos a eterna velocidade omnipresente.
9. Queremos glorificar a guerra - única higiene do mundo -, o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos anarquistas, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo da mulher.

10. Queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de todo o tipo, e combater o moralismo, o feminismo e toda vileza oportunista e utilitária.

11. Cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela sublevação; cantaremos a maré multicor e polifônica das revoluções nas capitais modernas; cantaremos o vibrante fervor nocturno dos arsenais e dos estaleiros incendiados por violentas luas eléctricas: as estações insaciáveis, devoradoras de serpentes fumegantes: as fábricas suspensas das nuvens pelos contorcidos fios de suas fumaças; as pontes semelhantes a ginastas gigantes que transpõem as fumaças, cintilantes ao sol com um fulgor de facas; os navios a vapor aventurosos que farejam o horizonte, as locomotivas de amplo peito que se empertigam sobre os trilhos como enormes cavalos de aço refreados por tubos e o voo deslizante dos aviões, cujas hélices se agitam ao vento como bandeiras e parecem aplaudir como uma multidão entusiasta.

[…]

Tradução em http://entrelinhas.livejournal.com

7 comentários:

  1. 100 anos, 2 meses e uns quantos dias. O original manuscrito estará por aqui http://quando-as-catedrais-eram-brancas.blogspot.com/2009/02/d-2.html

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  2. Julgo que seria importante tomar nota da perigosa relação que o Futurismo teve com o Mussolini e pela guerra como catalisadora do novo mundo.
    O futurismo encerra-se numa ideia forte a partir da qual todos os meios (neste caso a guerra e a politica fascista) são meios para chegar a um fim pré determinado.
    E é nesta perspectiva que a arte processual, a poesia, as ideias fracas e elásticas conseguem também ser operativas no plano político, não de uma forma activa mas como exemplo ou imagem.

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  3. Todos sao meios validos.
    Ha' uma obra de ficcao interessante: "Violencia e Escarnio", de Albert Cossery

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  4. E a adicionar a isto está o lugar dúbio que o futurismo possui para a vanguarda (progressismo?) Se por um lado se sustenta num mundo novo expresso pela máquina, o modo como o faz é romântico. Pouco tem a ver com Dada ou os movimentos construtivistas, claramente progressistas e orientados para a intervenção produtiva, política e social.

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  5. futurismo e fascismo italiano são hoje categorizados como estando do lado errado... mas, arrisco dizer, no seu tempo e no seu contexto, nasceram de intenso idealismo e vontade de renovação. A arte deveria deixar de servir interesses pequeno burgueses e individualistas e pôr-se ao serviço de causa maior - devia ser total - experimentaram nas mais diversas areas desde a pintura à culinária, passando por música, cinema, arquitectura.. estavam conscientes e virados para intervenção política e social ao ponto de estarem ligados à origem do regime.

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