“APARELHOS BREVES”
de
RODRIGO TAVARELA PEIXOTO
Se entrarmos na Galeria Sopro até ao dia 4 de Abril deparamo-nos com um conjunto de fotografias formalmente muito coeso. São obras recentes mas cuja base advém de uma busca que tem já alguns anos e que me parece agora bastante apurada, embora longe de estar esgotada.
Rodrigo Peixoto consegue com este grupo de trabalho fazer uma coisa que me parece fascinante e que na minha opinião mexe com as fundações da própria Fotografia. E se é seu objectivo alcançar distinção nos seus saturados meandros penso estar num caminho bastante frutuoso.
As imagens apresentam-nos objectos ou conjuntos de objectos relativamente simples na sua aparência mas cujo objectivo se cobre de uma complexidade apenas ligeiramente desvendada pelos títulos. Estes aproximam-nos da possível função que forçamos acomodar a um complexo grosseiro de materiais e que nos faz querer vislumbrar o desencadear da acção que prometem. Mas não satisfazendo a sede de claridade, recobrem-se em última instância da mais profunda áurea nonsense.
São esculturas de função duvidosa ou até mesmo poética e são fotografadas de forma dramática evocando a pintura clássica. Até aqui tudo bem, fotos que evocam pintura ou, actualizando a questão, fotos que evocam fotografia.
Mas o verdadeiro cerne da questão debate-se noutra linha de pensamento, concentrando-me mais nas formas esculturais que desejo presenciar ao vivo, circular sobre as mesmas, mudar de perspectiva, pois é precisamente aqui que está o fascínio. O artista é fiel aos seus princípios e eu espectador sou totalmente privado da presença destes objectos e a sua volumetria está de facto restrita às duas dimensões do suporte final. Não existem como esculturas e nunca foram concebidas para tal. As formas fundem-se com o fundo negro e a encenação é perfeitamente finda no formato fotográfico.
E é por isto que me agradam. Se em tempos a fotografia, por falta de desígnio, se apropria dos trejeitos da pintura. Aqui apresenta-se-nos apropriando os enredos da escultura. É de facto um desafio respeitável manusear artisticamente um medium cujos princípios são totalmente técnicos e que depois de brincar aos filtros do Photoshop só nos sobra encarar o touro de frente.
de
RODRIGO TAVARELA PEIXOTO
Se entrarmos na Galeria Sopro até ao dia 4 de Abril deparamo-nos com um conjunto de fotografias formalmente muito coeso. São obras recentes mas cuja base advém de uma busca que tem já alguns anos e que me parece agora bastante apurada, embora longe de estar esgotada.
Rodrigo Peixoto consegue com este grupo de trabalho fazer uma coisa que me parece fascinante e que na minha opinião mexe com as fundações da própria Fotografia. E se é seu objectivo alcançar distinção nos seus saturados meandros penso estar num caminho bastante frutuoso.
As imagens apresentam-nos objectos ou conjuntos de objectos relativamente simples na sua aparência mas cujo objectivo se cobre de uma complexidade apenas ligeiramente desvendada pelos títulos. Estes aproximam-nos da possível função que forçamos acomodar a um complexo grosseiro de materiais e que nos faz querer vislumbrar o desencadear da acção que prometem. Mas não satisfazendo a sede de claridade, recobrem-se em última instância da mais profunda áurea nonsense.
São esculturas de função duvidosa ou até mesmo poética e são fotografadas de forma dramática evocando a pintura clássica. Até aqui tudo bem, fotos que evocam pintura ou, actualizando a questão, fotos que evocam fotografia.
Mas o verdadeiro cerne da questão debate-se noutra linha de pensamento, concentrando-me mais nas formas esculturais que desejo presenciar ao vivo, circular sobre as mesmas, mudar de perspectiva, pois é precisamente aqui que está o fascínio. O artista é fiel aos seus princípios e eu espectador sou totalmente privado da presença destes objectos e a sua volumetria está de facto restrita às duas dimensões do suporte final. Não existem como esculturas e nunca foram concebidas para tal. As formas fundem-se com o fundo negro e a encenação é perfeitamente finda no formato fotográfico.
E é por isto que me agradam. Se em tempos a fotografia, por falta de desígnio, se apropria dos trejeitos da pintura. Aqui apresenta-se-nos apropriando os enredos da escultura. É de facto um desafio respeitável manusear artisticamente um medium cujos princípios são totalmente técnicos e que depois de brincar aos filtros do Photoshop só nos sobra encarar o touro de frente.
Olá Fernanda. No início do texto, o correcto seria escrever "entrarmos", sem "-".
ResponderEliminarA sua crítica vai de certeza levar-me à exposição e remete-me para uma das séries do Hiroshi Sugimoto, "Conceptual Forms".
Ai ai Fernanda... essa do touro é mesmo de escalabitana. Também gostei do que vi. gostei particularmente do Sanchez Cotan lá do fundo (1ª fotografia).
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