domingo, 15 de março de 2009

João Ferro Martins

"20-2000Hz"
Espaço Zaum Rua da Academia de Ciências, nº 2E, Lisboa.
Até dia 13 de Março .
"Peinture sonore (rose)", 2009.



"Soundpiece#2", 2009.
"Soundpiece#3", 2009.

"Sistema" , 2009.


Quando entramos no difícil Espaço Zaum, somos imediatamente submersos pelo som que nos surge da sala à direita da entrada. O som lúdico de "Peinture sonore (rose)" e o complexo cluster que pretende traduzir o som da cor branco, em "Soundpiece#3" transporta-nos para um mundo próximo de "Alphaville - Une étrange aventure de Lemmy Caution" de Jean-Luc Godard. Um mundo que não é tanto visual , mas sim sonoro; Que se transfoma em imagem a partir dos pequenos apontamentos visíveis na sala, a saber: um conjunto de colunas de som pintadas de forma a evocar as pinturas mórficas de Robert Delaunay, um chapéu de fotografia negro com um cantante que imite um som concreto e absurdo, um conjunto de fotografias de uma mulher que tenta dizer-nos algo em cinco fotografias como que soletrando uma palavra.
Tudo isto remeteu-me para algo entre o film noir e o filme de ficção científica e em especial para aquela voz mecânica e aterradora de "Alphaville".
Depois lemos os títulos e voltamos a uma sala de exposição. Afinal a mulher está a tentar dizer-nos "Ruído" o que mantém a peça no seu estado enigmático mas segura-se na relação com um passado que me é próximo (que é o da história de arte, nomeadamente às prácticas transversais dos anos setenta).
Sigo para a sala seguinte e vejo pela primeira vez na entrada um desenho linear de um homem com uma massa informe que cobre a cabeça.
Na última sala encontro um conjunto de peças interligadas entre si. Um grande calhau com twiters ligados a um sistema de amplificação e um microfone com uma cadeira junto deste.
Esta peça é um convite para uma acção. O espectador é convidado a falar com um calhau. O que dizer? Sabemos à partida que será um acto falhado e podemos acabar por falar connosco próprios. Talvez esta seja a função deste prop, falar mas acima de tudo ouvir-nos a nós próprios.
A última peça da exposição (para mim a primeira na sua qualidade) é o vídeo intitulado "Sistema" no sentido de coisa ou entidade.
Este vídeo de cinco minutos é uma massa acinzentada e disforme, que na sua evolução formal produz de forma muito efectiva grotescos para uma experiência sublime.
"Sistema", fica no intervalo da produção ora conceptual ora absurda de João Ferro Martins, dando a ver sem que seja possível medir, mencionar, falar sobre; Antes, mantendo no corpo
uma experiência que é difícil de compreender, deixando-se territorializar pelos nossos medos e esperanças que se projectam numa massa informe em permanente movimento.

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