Descobri-o na discreta galeria Frank Elbaz (Paris). Wallace Berman, nascido a 1926 e de ascendência russo-judaica em Staten Island foi viver para Los Angeles aos nove anos, onde, no envolvimento que foi tendo com o Jazz, substâncias psico-cinéticas, Dada, desporto e esoterismo (particularmente um interesse pela Cabala) desenvolveu também as suas pulsões poéticas. Assim, Berman e bem cedo, tornar-se-ia numa figura clássica do underground da Costa Oeste. A principio aluno de uma escola de artes, rapidamente incompatibilizou-se com a metodologia académica e escolar. Seguindo então no seu percurso próprio, empregou-se e o trabalho que obteve numa fábrica de mobiliário permitiu-lhe não apenas tornar-se autónomo como desenvolver o gosto pela assemblage, o modo de trabalho que melhor caracterizou a sua variada produção. De interesses múltiplos Berman viveu imerso em poesia e criou à sua volta um círculo criativo tornando-se numa das personagens geradoras do movimento beat. "Besides a collagist, painter, photographer and poet; his immersion in art was complete. He not only made it but also inspired others to make it, sparking hidden aptitude in startling places. After meeting him, drifters, movie stars, ex-marines and petty criminals found themselves starting to paint and write."(1) Segundo Dennis Hopper "He affected and influencied seriously involved in the arts in Los Angeles in the 50's. If there was a guru, he was it - the high priest, the holy man, the rabbi."(2). Momento fundador para a sua influência foi a criação da revista Semina (ver imagem), que enviava por correio (foi um pioneiro da mail-art); "The magazine, its pages randomly compiled, mixed Berman heroes like Antonin Artaud and Jean Cocteau with established American poets like Robert Duncan and Allen Ginsberg, then added a slew of younger writers and artists — Philip Lamantia, Jack Anderson, Patricia Jordan, Kirby Doyle, Bob Kaufman, Aya Tarlow, Ruth Weiss, Michael McClure, the great gay poet John Wieners — all barely out of the starting gate. Sent, copy by copy, through the mail, Semina defined a distinctively trippy, sardonic West Coast surrealism. New York had hard, cold Pop; the West Coast had a woozy Peyote-Funk that prefigured the hippie era." (3) Expôs pela primeira vez em 1957 na galeria Ferus. Nessa ocasião chegou mesmo a ser preso por mostrar imagens ofensivas ao decoro. Dedicou-se também ao cinema; um único filme "Aleph" (nome dado posteriormente à sua morte pelo filho) realizado, que ia sendo expandido e que nunca quis mostrar a grandes audiências. Este filme, um mosaico quase abstracto de sobreposições texturadas, impressões fugazes a ritmo alucinante, ilustra muito bem a inclinação de Berman para o universo experimental da livre associação de imagens. Um lado menos imediato e construido da sua obra, são justamente estas colagens, que se tornaram na sua obra mais significativa e madura, o seu principal veículo poético desde 1964 até ao acidente mortal que o matou em 1976. "After World War II, 3M and Eastman Kodak introduced the Thermo-Fax and VERIFAX copiers into the workplace. The copies were of poor quality and continued to darken long after they had been pulled from the machine. Although the office models were relatively inexpensive and easy to use, their special paper eventually cost users a fortune."(4) Wallace Berman via na palavra Verifax qualquer coisa próxima de "true facts", uma associação simbólica que lhe abria lugar a uma asserção de realidade do imaginário. No aspecto mais prático, este método rudimentar de fotocópia permitiu-lhe usar mediuns expressivos que desde sempre lhe foram caros, a fotografia, as artes gráficas e claro está, a colagem. Como "suporte" ou "moldura" utilizou constantemente a fotografia de um pequeno transistor retirado de uma página publicitária. Retirando-lhe o rectángulo do altifalante substituia-o então com as imagens que ia descobrindo. Berman experimentou todas as possibilidades deste dispositivo a fundo. Através dos acidentes que criava com as dosagens de revelador e fixador, dos vários tons e misturas de cor que obtinha, nunca obtinha cópias. Depois compunha as peças, recortando os "originais" que obtinha, realizando assim as imagens finais sob a forma de séries individuais. Foi com as colagens Verifax, a sua obra derradeira, que Berman encontrou por fim, em método, ritmo e forma de disseminação, o meio perfeito de realização de um reencontro das suas origens culturais, o espirito experimental e libertário californiano e por fim o lado mais oculto e profundo das deambulações espirituais nas quais habitou.
(2) Sophie Dannenmüller (Press Release-Galerie Frank Elbaz)
(4) www.smithsonianeducation.org/scitech/carbons/copiers.html
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