domingo, 1 de março de 2009

O Inferno das Pizz



















Barnett Newman
"Selected writings and interviews"
Edited by John P. O'Neill
University of California press, Berkeley. LA.  1992




















Jean François Lyotard
"O inumano" - consideraçõe sobre o tempo
Trad. Ana Cristina Seabra e Elisabete Alexandre, Ed. Estampa, Lisboa. 1997



















Barnett Newman
"Eve", 1950
Óleo sobre tela. 238.8 x 172.1 cm
Colecção da Tate, Londres.
 











Vista da exposição "Inferno: apareceu em Rio Tinto" de Pizz buin. 
Rock gallery, rua da Boavista nº 84. Lisboa, até 21 de Março.


Na Rock gallery as Pizz Buin apresentam um conjunto de torradas emolduradas. 
Estas torradas queimadas têm como títulos, títulos de pinturas de carácter religioso.
Ouvi falar que, ao mesmo tempo no Espaço Avenida, estão expostas um conjunto de torradas queimadas desta feita com a imagem da Nossa Senhora . 
A diferença entre ambas as torradas não está no motivo mas na forma. 
Enquanto uma das propostas pega literalmente num facto que mereceu a atenção dos media (a aparição da Nossa Senhora numa torrada) a proposta das Pizz Buin desvia-se da mera transferência do quotidiano para  a criação de discurso em torno da representação e da representação negativa.
As torradas queimadas são a negação do título. Para ver algo, Cristo descendo a cruz  ou A aparição seria de facto necessário acreditar; Aliás estar iludido, querer ver onde nada está.
Esta impossibilidade que as Pizz Buin levantam remete  para a obra de Barnett Newman e a impossibilidade de representação que exponenciou nos anos 50. 
Após o Holocausto, não era possível fazerem-se retratos, pintar naturezas mortas ou belas paisagens. Não era sequer possível acreditar no humano como construtor racional de um mundo melhor a vir. 
A obra de Barnett Newman, figura essencial da Arte americana do Pós-Guerra foi, segundo J. François Lyotard, o inventor do tempo Pós-Moderno. Nas suas obras como "The sublime is Now" (traduzido: O Sublime é agora.) temos um campo de côr demarcado ou ampliado por duas linhas verticais (zips).  O agora é essa demonstração de um tempo perdido, e a intensificação da experiência o sublime. Neste contexto, J. François Lyotard vê as pinturas como "Eve", na sua impossibilidade de representação como representação negativa. Esta fórmula ou condição tem repercussões na forma como tomamos o tempo. Um tempo em perda que resgata-nos para um modo ou tempo lento; Que tenta, sem o conseguir, andar para tràs. É nesta forma de desaceleração que eu julgo que alguns artistas conseguem produzir um trabalho verdadeiramente político. 
Em"Pintura e representação política" in "O inumano" Lyotard escreve-nos:"Não foi só a fotografia que tornou impossível a profissão de pintar. Dir-se-ia o mesmo dizendo que a obra de Mallarmé ou a de James Joyce rispostam aos progressos do jornalismo. A "impossibilidade" vem do mundo tecno-científico do capitalismo industrial e Pós industrial. Este mundo precisa da fotografia e quase nada da pintura, do mesmo modo que precisa mais do jornalismo do que da literatura. Mas sobretudo ele não é possível senão com a supressão das profissões "nobres"que pertencem a outro mundo, e com a supressão desse mesmo mundo."
De origem provavelmente diversa (visto serem um grupo de quatro pessoas) as Pizz Buin  levantam uma questão verdadeiramente importante para o meio em que nos inserimos mas com a tónica do riso que nos liberta do meio onde vivemos, demasiado pesado,  e sempre na expectativa, sem coragem de afirmar o que quer que seja.  
Esta exposição consegue colocar todos os espectadores a passar mais algum tempo entre o título e uma mancha negra  que aconteceu  numa fatia de pão de forma, que também é uma pintura negra, de carácter abstracto e informal.
O teor conceptual desta exposição vem da nomeação de uma obra e do intervalo entre esta e a mancha negra.  
A instalação  de carácter museológico, sendo o veículo ideal, caí porém no lugar comum  da utilização da retórica museológica sem adicionar nada a esta temática (1) antes servindo-se dela, por uma boa causa.


(1) "The museum as muse" foi uma exposição feita em 1999 no MOMA de Nova Iorque que  toma como ponto de partida a reflexão sobre o espaço museológico feita pelos artistas: a exposição de Surrealismo comissariada por Duchamp, o quarto do abstraccionismo de Lissitzsky , o Musée des aigles de  Marcel Broadthaers, o Brooklin Museum de Joseph Kossuth entre tantos outros. 




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