A exposição de Vasco Costa patente na galeria Jorge Shirley, é uma das boas coisas a ver em Lisboa.
A exposição é composta por um conjunto sóbrio de peças de parede no piso térreo, evocativas de uma tradição pictórica à qual podemos filiar trabalhos de Eva Hesse mas também de Robert Rauschenberg; E de um conjunto de esculturas na cave que tornam a Hesse mas também a Joseph Beuys, Robert Grosvenor e Thomas Schutte .
Os nomes que acima menciono não são uma muleta para este texto, antes uma nota importante para o trabalho que Vasco tem vindo a desenvolver numa lógica de total afastamento do meio (1) e envolvimento/absorção de algumas exposições de Serralves que são a costa à vista no isolamento do artista.
Aquilo que difere a filiação de Vasco a determinadas linguagens, de outros artistas que pretendem fazer arte que se pareça com arte, tem acima de tudo a ver com uma arte que é aqui da necessidade, que evoca um tempo de certo modo perdido, radicalmente diferente daquele em que vivemos hoje.
O tempo que Vasco Costa dá a cada uma das suas peças é o tempo da auscultação do objecto. Não existe força ou tentação humana para abusar de um objecto encontrado, dizendo o que se quer através deste. Antes, existe um balanço entre o sujeito passivo e o activo.
Não existe assim a citação barata de um conhecimento que não foi incorporado. Os nomes dos artistas acima citados não estão ao lado das esculturas. Estão impregnados em cada um destes objectos encontrados, umas vezes manuseados outras vezes não.
Estes "velhos da montanha" do Vasco, ajudaram-no a preservar-se, reinventando-se em vez de se aniquilar consumindo-se a si mesmo, trabalhando ensimesmado em Cesar.
A patine suja de cada objecto, para além de trazer uma certa densidade plástica aos trabalhos, tempo e qualidade de memória, são uma lufada de ar fresco num ambiente galerístico e institucional em que tudo é bom de se levar para casa, tudo é pequeno-burguês, bem emoldurado e acabado.
(1) Vasco Costa licenciou-se nas Caldas da Rainha e quando acabou o curso rumou a Cesar de forma a não ter de trabalhar para outros, antes, fazer um exercício de contenção e minimização de custos, trabalhando esporadicamente e por pouco tempo, e desenvolvendo o seu trabalho através de projectos feitos em fotocópias e instalando efémeramente alguns tachos que o seu tio comercializa. Para os seus projectos expositivos, Vasco vai para o monte e utiliza materiais precários que recolhe à espera que tenham utilização.
Às vezes falo do Vasco Costa como o Henry Thoreau português o que é uma comparação exagerada de facto.
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