Sinto que qualquer palavra é obscena para decorar os sentimentos que me ficaram da pessoa que me transmitiu os primeiros fundamentos sólidos de investigação teórica e simultâneamente o sentido de relativização sobre a "verdade" da historiografia e muito mais para além disso.
A Ana Vieira provou de sentimentos muito mais pesados por ser dele uma amiga verdadeiramente próxima. A exposição do seu trabalho que recentemente terminou no palácio do Marquês de Pombal na Rua do Século foi dedicada à memória do António Rodrigues. Estranhamente ou não essa dedicatória não é simplesmente colocada sobre um contexto qualquer do mesmo modo que a morte surpreende o fio quotidiano das coisas. Pelo trabalho de Ana Vieira, a começar naturalmente pelos trabalhos em si mas extendendo-se esta sensação ao espaço e ao desolamento melancólico que imprime, passa e está entranhada a reflexão sobre o passado dado a ver como fantasmagoria de memórias.
O trabalho exposto funcionou em quatro grupos mas todos em redor da experiência de ver ou olhar através do dispositivo tanto óptico como linguístico. A primeira sala tinha alguns exemplos de uma série que já vi no Porto em que uma imagem, invariavelmente ligada a um espaço privado de trabalho ou hábito, só pode ser apreendida de modo fragmentário e algo voyeurista através de um espelho. Este espelho ou a sua sombra toma uma nova forma, desta vez como um portal negro, ou máscara-silhueta, que no vídeo projectado num ecrã suspenso numa outra sala, apresenta o mundo exterior indistinto, nebulado, indiferente. A silhueta femenina e estática soma outro grau de ambiguidade ao não deixar perceber se é ela que se se lança em reflexão nessa exterioridade indiferente ou se apenas e como esfinge, nos apresenta apenas os ombros e um mistério.
Por fim as memórias dos lugares escritas mas às quais se acede na escuridão à luz de lanternas provocando metáforas sobre a irredutibilidade do referente ao texto ou talvez ao eterno referenciar do texto á sua própria sombra e repetição. As chaves apresentadas são imaginárias e remetem-se para a parede no estado dito, não abrem nada mais do que a possibilidade de imaginar os espaços que apresentam e que se mantêm no escuro ou numa outra luz, dependendo da perspectiva, talvez para lá das paredes ou no passado deste palácio ou de outros sítios habitados. É este, imagina-se, o sentido do "ver através dos espaços entre as letras" da última de uma série de frases para ler à lupa que se exibem ao fundo.
Em todo o trabalho sente-se esta retirada em estilo para um outro lugar fechado, uma casa ou uma memória; tem sido essa uma das marcas e cada vez mais pronunciada do trabalho de Ana Vieira desde o início das suas exposições nos inícios de setentas. Ao exterior, ao público, ao momento histórico, respondeu através de uma estrutura conceptual interiorizada com a representação permanente da casa e dos seus objectos e gestos vividos. Esse gosto pelo que se passa entre quatro paredes, de uma casa ou caixa, partilhou-a também com esse professor de história que me definiu um dia caixa e todos os jogos e analogias que esta estrutura permite de exterior e interior, como o objecto inicial e estruturante para a arte conceptual (mesmo pictórica) desse tempo. E sentiu-se forte, para quem o conheceu, a presença dele naquele lugar.
O trabalho exposto funcionou em quatro grupos mas todos em redor da experiência de ver ou olhar através do dispositivo tanto óptico como linguístico. A primeira sala tinha alguns exemplos de uma série que já vi no Porto em que uma imagem, invariavelmente ligada a um espaço privado de trabalho ou hábito, só pode ser apreendida de modo fragmentário e algo voyeurista através de um espelho. Este espelho ou a sua sombra toma uma nova forma, desta vez como um portal negro, ou máscara-silhueta, que no vídeo projectado num ecrã suspenso numa outra sala, apresenta o mundo exterior indistinto, nebulado, indiferente. A silhueta femenina e estática soma outro grau de ambiguidade ao não deixar perceber se é ela que se se lança em reflexão nessa exterioridade indiferente ou se apenas e como esfinge, nos apresenta apenas os ombros e um mistério.
Por fim as memórias dos lugares escritas mas às quais se acede na escuridão à luz de lanternas provocando metáforas sobre a irredutibilidade do referente ao texto ou talvez ao eterno referenciar do texto á sua própria sombra e repetição. As chaves apresentadas são imaginárias e remetem-se para a parede no estado dito, não abrem nada mais do que a possibilidade de imaginar os espaços que apresentam e que se mantêm no escuro ou numa outra luz, dependendo da perspectiva, talvez para lá das paredes ou no passado deste palácio ou de outros sítios habitados. É este, imagina-se, o sentido do "ver através dos espaços entre as letras" da última de uma série de frases para ler à lupa que se exibem ao fundo.
Em todo o trabalho sente-se esta retirada em estilo para um outro lugar fechado, uma casa ou uma memória; tem sido essa uma das marcas e cada vez mais pronunciada do trabalho de Ana Vieira desde o início das suas exposições nos inícios de setentas. Ao exterior, ao público, ao momento histórico, respondeu através de uma estrutura conceptual interiorizada com a representação permanente da casa e dos seus objectos e gestos vividos. Esse gosto pelo que se passa entre quatro paredes, de uma casa ou caixa, partilhou-a também com esse professor de história que me definiu um dia caixa e todos os jogos e analogias que esta estrutura permite de exterior e interior, como o objecto inicial e estruturante para a arte conceptual (mesmo pictórica) desse tempo. E sentiu-se forte, para quem o conheceu, a presença dele naquele lugar.
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