Alberto Carneiro
Afinal saí pelo meu corpo. Corpo e mente. unidade de corpo. Ela nele e ele por ela. Desenvolvimento para o cosmos. sabedoria e conhecimento. Pela sabedoria, o corpo é consciência de tudo na mutação de cada coisa. Pelo conhecimento, ele age sobre o vertical e reafirma a acção sobre a horizontal. O horizontal leva a conhecer as coisas como elas são, no entendimento e no sentido mais profundo da sua realização. O horizontal leva a conhecer tudo acerca de alguma coisa.
Álvaro Lapa
"Conversa",1983-84
Esmalte acrílico sobre platex aparelhado,
136 x 100cm.
PARTICULAR - Quando se interroga didacticamente uma tradição omite-se o presente se o houver e é talvez por isso que a dimensão didáctica da pintura se tornou invariavelmente abstracta ou seja "linguística", verbal e verbosa como em qualquer aula ocidental e dualista. O que daí sobra, o figural para citar Lyotard, é o concreto (por antítese; por que remédio)ou seja:o ruído, o corpo, o não metamórfico e ainda asim metamórfico (= o não feito),o técnico (=o não programado) e o relativamente intemporal.
António Palolo
Eduardo Batarda
LOUVOR A EDUARDO BATARDA PELO PRÓPRIO
(OU "NUNCA-TIVE-SORTE-NA-VIDA)
Se eu distribuísse camiões, podia dizer coisas como: "1964/1984":"vinte anos na vanguarda do progresso"; ou "sempre na crista da onda". Ou até: "missão cumprida". Se calhar já não dizia que "vim para trabalhar". Eram metáforas, e boas malhas. Já lá vai tempo em que eu escrevia pelos cotovelos acima. Agora as coisas, limitados que estamos, são simples: é só não ir à televisão e fazer o resto de acordo. E para quem escreve: aprendam línguas. Qualquer dia precisam. Estudem.
"Isto é pintura nº10 (a pintura não é um acidente eucarístico)",
1984,
técnica mista,
59 x 52 cm.
NOTAS PARA O FIM DO FIM DO MUNDO
1. Interdisciplinaridade e paradoxologia.
2. Diferença e in diferença.
3. Indiferença e desprezo.
4. Comunicação e incomunicação (ou transcomunicação).
5. Estrutura e conjuntura (ou tradição como aventura).
6. Desejo e prazer (o teu corpo é o meu corpo é o teu corpo).
7. O terror e o paradoxo do terror (ou a cruz e a chama).
8. O paraíso prometido (ou esta é a minha terra).
9. Não vou por aí.
10. Agora e aqui.
Gaetan
MIMESIS*
Pensava em velhos quadros que vira nos museus sem os compreender bem. Esperava, como esperava à frente desses quadros, qualquer coisa que nunca acontecia.
-Não o que eu quero dizer é isto: que a realidade encerra um desejo absurdo de irrealidade!
- Mas como sou eu realmente?
- Justamente , tu não és real.
* À excepção do título, o presente texto é constituído pela transcrição literal (pese embora a tradução) de três passagens distintas retiradas de duas obras de Robert Musil, a saber: As atribulações do jovem Torless e O Homem sem qualidades.
Joaquim Bravo
Prometo-vos mudar completamente a minha pintura.
Julião Sarmento
Não desejo inserir qualquer texto ou comentário sobre o meu trabalho.
Maria José Aguiar
"Camuflagem" , 1981,
acrílico, pigmentos, polivinílico s/papel montado sobre platex engradado,
100 x 100 cm.
Pedro Cabrita Reis
"...do meu posicionamento perante a minha actividade plástica..."
Perante a dita, o meu posicionamento é essencialmente erecto. O que quer dizer que pinto de pé. Na vertical. da pintura quero unicamente que ela seja boa, isto é , que me agrade. Que me excite. Eis porque, pinto hoje uma coisa e amanhã outra, para horror de alguns (fui informado disso...)e, como inevitavelmente, para deleite da minha incoerência. Aliás de vocação consciente. A minha pintura sou eu próprio mais aquilo que de mim desconheço. Ora, um dos grandes fascínios que a arte reserva é que , as mais das vezes, ela é muito mais ininteligível para os seus autores que para os outros. Convenhamos que este fenómeno possuí pelo menos uma inestimável vantagem: demonstra à saciedade a inteligência que assiste à criação. São portanto fastidiosas e insípidas as querelas que opõem, relacionam, referenciam, afastam, enfim, geografizam a obra, o autor e os outros. Donde, fundamentalmente, a militância (palavra escabrosa, "malgré tout") é baralhar as pistas e fornecer à plateia o máximo de contra-informação por hora de trabalho e m2 de tela. (...)
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